domingo, 15 de março de 2009

QUANDO EU MORRER
Aos meus amigos que morrerem depois de mim
Silvino Netto – 01.05.08

Quando eu morrer,
Quero uma festa para celebrar a vida!
Quero uma cerimônia repleta de amigos
E familiares.
Não quero ter pressa de dar adeus
Enquanto presente em corpo frio.

Não faço questão de flores e coroas.
Flores de funeral, murcham logo
E cheiram diferente do perfume
Das flores de eventos festivos.
Quero você presente
Como adorno e aroma de que preciso
Para celebrar os muitos dias de vida
Que vivi intensamente.

Quando eu morrer,
Quero que você
Traga consigo suas lágrimas
Para derramá-las sobre mim.
As lágrimas são expressões
Lindas de nossos sentimentos
Mais profundos e significativos.
Não quero ver somente
Mulheres chorando.
Quero ver homens, também.
Homem também chora!
Tem sentimentos!
Portanto, chore lágrimas,
Mesmo que não rolem na face,
Que sejam apenas, lágrimas secas
Brotantes do impulso de soluços,
Do íntimo da alma,
Que só você sabe
O quanto significam.

Quando eu morrer,
Aproveite a oportunidade
Para rever e abraçar amigos
Os quais não via há muito tempo!
Fique à vontade para abraçá-los
De seu jeito espalhafatoso e brincalhão.
Eu não vou pensar
Que é falta de respeito a mim,
Seu morto querido.
Só não faço o mesmo porque não posso.
Iria causar um corre-corre tremendo
E matar muita gente do coração...

Com os amigos,
Recordem o que tínhamos em comum,
As nossas diferenças e semelhanças.
Faça desta festa de minha morte
Um evento alegre
De encontros e abraços saudosos
Que selem compromissos
De não esperar o próximo enterro, do outro
Para se encontrarem novamente.

Quando eu morrer,
Quero que você venha
E traga no coração sementes de saudade.
Que coisa linda
O sentimento da lembrança do amigo...
A vontade forte de que ele não se vá...
Que fique; fique perto,
Bem perto para sempre!
Sua saudade trazida
É uma prova do quanto você
Me amou profundamente.

Quando eu morrer,
Não se preocupe
Com a roupa que vai vestir.
Não precisa tirar do armário,
Os óculos escuros
Para esconder as lágrimas
Dos olhos vermelhos;
Nem as clássicas vestes pretas de funeral,
Com cheiro de mofo ou de sachê.
Venha no seu próprio estilo:
Com brilho, sem brilho ou multicor...
Não importa.
Lembre-se que sou tricolor!

Quando eu morrer,
Não precisa perder a noite toda no velório.
Alguém vai ficar cuidando
Para o “morto” não sumir (rrss).
Descanse e, no máximo,
Sonhe comigo, sem ter pesadelos.
Mas, na hora da festa,
Não chegue atrasado,
Em cima da hora.
Venha mais cedo para me curtir
Na presença deste corpo
Que você não verá mais
(pelo menos aqui na Terra).
Nem fique indeciso
Preocupado com as coisas que deixou
Sobre a mesa de trabalho,
Sem saber, se fica ou não fica,
Até o último momento
Do sepultamento.
Me acompanhe, andando passo a passo,
Até à sepultura.
E, se for de sua cultura,
Jogue suas últimas pétalas sobre mim.

Quando eu morrer,
Eu quero que você cante.
Uma festa só é festa
Se tiver muita música boa no ar
Que expresse o perfeito louvor.
Cante, porque faz bem:
Espanta os males,
Abre espaço no seu coração
Para o pouso da paz,
E faz caminho para o bálsamo da consolação...

Quando eu morrer,
Eu quero que o seu sorriso
Esteja presente na minha despedida.
Sorria, acompanhado
De um breve “até logo”.
Sim, porque você, também, está na fila.
Não pense que vai
Ficar, pra sempre, pra semente.
Mais cedo ou mais tarde,
Estará, aqui, no meu lugar.

Quando eu morrer,
Olhe para mim,
Mas não precisa dizer nada.
Eu sei que você vai me achar
O morto mais bonito que já viu,
Que estou sereno,
Dormindo como um pássaro,
Sonhando o sonho dos anjos...
É verdade:
Eu estou vivo, como nunca!
Sei que você se lembrará
Apenas de minhas virtudes,
Sepultará minhas falhas
Com o seu perdão,
Prova o quanto gosta de mim,
Apesar de mim mesmo.

Quando eu morrer,
Ao tocar o sino,
Anunciando que chegou a hora
De me sepultar,
Não brigue por chegar primeiro
Para carregar a alça de meu caixão.
Se não conseguir vencer,
Esta “briga de machão”,
Fique satisfeito, com a certeza,
De que me carregará para sempre
No berço de seu coração.

Quando eu morrer,
Despeça-se de mim,
Na certeza de nos encontrarmos um dia,
No mistério da ressurreição,
Pela graça de Deus
Que nos deu a dádiva da vida;
Pelo amor de Cristo,
Que morreu por nós,
Para celebrarmos, na morte,
A vitória da vida,
E vida eterna!

Quando eu morrer,
Se não puder vir,
Não fique com sentimento de culpa
E nem pense que volto, para dar o troco,
Puxando-lhe o pé.
Se não fizer nada disso que sugeri,
Basta que reserve um tempinho,
Onde estiver,
Para refletir sobre a vida,
Sobre as suas prioridades
E o quanto é importante
Cultivar amizades
E cuidar de você.

Quando eu morrer,
Eu gostaria que fosse assim!
Mas, não faça nada,
Simplesmente, por mim.
Faça, o que fizer, principalmente,
Bem a você!


PS. Tudo que escrevi e disse,
Vale, também, se, mais tarde,
Decidir ser cremado.

Um comentário:

  1. Olá, meu amor!
    Adoro essa poesia e também amo seu blog! Beijos, de sua marmotinha.

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