sábado, 28 de março de 2009

Um Caipira Servo de Deus

DESPERTAR NA ROÇA
Mário Celso Rodrigues

Com os zóio inda turvo
esticano gostoso os osso;
madrugada inda iscura.
No poleiro o garnisé cantando,
disputando com o carijó.
As poedera se cumprimentando...
Um cacarejá que só...
Um poquim mais adiante,
a Malhada sorta um mugido,
no chiquero isfomiado reclama Chicó.
Nos gáiu do abacatero a confusão dos pardá,
e no pé de jatobá alegre canta o sabiá.
Eta dispertar, qui festa!
Num tem de que reclamá.
Num pulo, sarto da cama.
Mariete já num tava lá,
muié isperta, foi o café aprontá.
Por entre as fresta da janela,
o vermeião do sol vi dispontá,
dei um Glória a Deus, Aleluia!
Que dia bom pra trabaiá!
Nos passo ligero dum bom caipira,
na cuzinha dipressa quis chegá.
Marieta bunita num vistido de chita,
leite e café, biscoito de nata,
do mio verdi a pamonha tinha também bolo de fubá,
lá vinha os mininu acabano di acordá.
Nos dois lado da mesa,
os banco pra si sentá.
“O Sinhô e meu pastô, nada mi fartará...”.
O minino maió aprendeu a soletrá,
bonito é Marieta cantando
os hino que louva ao Sinhô
e o pequenino repitino: “gólia, gólia, Salvadô”
O missionário chama Zé Lino pra estudá,
minha bela companhera tem a casa prá cuidá.
Pequeno Tuninho vive pra traquiná.
Coloco a inxada nas costa,
o orvaio moiando a butina.
A passo firme vô pra roça,
tenho a famia pra sustentá!
É duro o trabaio no campo,
o mato que tenho de roçá.
Aprontá a terra pra semiá,
tem os animá pra cuidá...
Mas Deus dá uma força danada.
Fica leve o labutá,
E no final do dia,
a Deus quero louvá.
O sol tá no arto, istômago roncano,
deve de sê meio dia, pro rancho vô caminhano.
No meio do caminho topei com Zé Lino,
minino isperto, dicidido, qué sê pastô,veio falano.
Ouvino suas historia no rancho cheguei sonhano.
Tuninho também com o missionário iniciô a lê,
prus minino da fazenda diz que doutô vai sê.
O orvaio moiando a butina.
A passo firme vô pra roça,
Vô meus corim cantano,
cantano o prazê qui sinto.
É o coração do caipira,
lavado pelo sangue de Cristo.
E todo o dia renasce a felicidade, não minto!
Os ano si passaro, Zé Lino é pastor,
e na cidade grande, de Cristo anuncia o amor,
e o missionário pro estrangero vortô.
Aprendeu a lê Marieta e a outros ensina com dulçô.
O traquina do Toninho, dotô Antônio se tornô.
Com carinho trata us infermo, aliviando sua dô.
E continua exartando:
Glória, glória ao meu Senhor!

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